A pandemia acelerou a modernização das empresas e, em poucos meses, novos processos e projetos de inovação foram implementados. Em meio a um cenário incerto, a restruturação digital foi fundamental para a manutenção dos negócios e o desafio, que já existia, foi ainda maior. Confira a entrevista com Daniel Randon, CEO das Empresas Randon e Presidente do Conselho do Transforma RS.
Além da transformação digital o que mais mudou ou deve mudar nos sistemas e processos das empresas?
Revisitamos conceitos e práticas para avançar ainda mais em processos e ações inovadoras, principalmente envolvendo soluções mais ágeis. Ferramentas como uma maior cooperação entre as organizações, parcerias de empresas já amadurecidas com startups, desenvolvimento de novos projetos na área da automação, são algumas das tendências para quem quer avançar com maior eficiência, produtividade, qualidade, integração e segurança.
Além disso, percebemos um novo desenho de trabalho a partir do home office, prática que gerou uma necessidade de muitas organizações se adaptarem. Hoje, conseguimos ter reuniões mais efetivas, perdemos menos tempo com deslocamento e viagens e a distância já não é mais problema. Pelo contrário, ficamos mais próximos e conectados com as pessoas.
A cultura empresarial também está passando por transformações necessárias para a construção de um futuro sustentável. O que vai ser mais importante na relação entre empresas e seus colaboradores daqui para frente?
As organizações devem fomentar a prática dos seus valores e do seu propósito, sendo um estímulo constante para que cada indivíduo que compõe a empresa sinta-se comprometido, ou seja, um protagonista com espírito empreendedor e inovador em cada relação, processo e ação desenvolvidos. Isso não significa que o papel das lideranças na virada de mindset não seja fundamental. Todo processo de mudança cultural precisa ser feito de cima pra baixo. Vivemos em tempos de aprender, desaprender e reaprender.
A partir dessa evolução interna, a empresa também estará preparada para atuar com conexões externas, sem medo de errar. Temos que trabalhar com estruturas mais horizontais ou em formato de redes. Precisamos diminuir drasticamente a hierarquia que leva ao medo do erro ou das pessoas ousarem.
As restrições da pandemia também aceleraram as transformações na mobilidade urbana. Sobre isso, qual o principal desafio da indústria?
Temos hoje um tema extremamente importante que é a mobilidade. Nessa linha, acredito que há três principais tendências tecnológicas para o futuro: conexão, autonomia e eletrificação. Estamos conectados a tudo. A conectividade está no caminhão, no drone, nas empresas e nas cidades. Tudo estará interligado. Nessa linha, já identificamos diferentes empresas em fase de desenvolvimento de carros autônomos, como Waymo, Audi, GM, Samsung, Apple, etc… E a eletrificação é um tema que discutimos há bastante tempo, mas que também volta a ganhar força nas discussões sobre o que vem pela frente. Esse é, hoje, um tema importante para todas as principais empresas do setor no mundo porque também está diretamente ligado às políticas de ESG. Por meio da tecnologia, estamos desenvolvendo veículos mais sustentáveis, menos poluentes. Isso nos leva à necessidade de ter cidades mais planejadas, com melhor qualidade de vida às pessoas. É um ciclo.
Como modelos como o do Instituto Hélice podem ajudar no futuro dos negócios?
O modelo de atuação do Instituto Hélice reforça o princípio colaborativo. Vivemos em ecossistemas e se as entidades/empresas não se organizarem de forma colaborativa também não vão sobreviver. As 20 empresas participantes do movimento da Hélice formam um ecossistema que incentiva e acelera startups, criação de fundos, incentiva essa nova economia de transformação em toda a região da Serra, e que serve de modelo para que outras regiões ou grupos de empresas se unam, como é o caso da Aliança Empresarial Norte RS e o Instituto Caldeira. São ecossistemas que agregam na retenção e atração de talentos, além de instigar o empreendedorismo, os negócios e os investimentos na região.
Apesar da força empreendedora gaúcha, o Rio Grande do Sul continua perdendo competitividade. Quais medidas são necessárias para impulsionar a economia e atrair investimentos para o nosso Estado?
Além da fomentação de novos ecossistemas, como os mencionados na resposta anterior, identifico algumas frentes prioritárias que, se desenvolvidas de maneira correta, irão contribuir para o aumento da competitividade. O Estado deve trabalhar na redução da burocracia, aumentar os investimentos em inovação e promover as reformas estruturais necessárias para ter equilíbrio fiscal, além de impulsionar fortemente os investimentos em educação. O grande desafio de qualquer mudança é o equilíbrio entre a arrecadação e o desenvolvimento econômico e social. Isso é necessário para que o Rio Grande do Sul retome o curso do crescimento sustentável baseado na inovação e na preservação do reconhecido espírito empreendedor.
Quais as principais ações do Transforma RS na construção de um Estado economicamente sustentável?
O Transforma RS tem atuado como um hub que conecta empresas, governo, universidades e sociedade com o propósito de apoiar juntamente com outras entidades e lideranças o desenvolvimento do Rio Grande do Sul. As lideranças empresariais que integram o Transforma acreditam na convergência de ideias e ações para o fortalecimento econômico e social do Estado. A atuação está alicerçada em três eixos estratégicos: Dia a Dia (Ajudar os governos do estado e municipais a resolver os problemas do dia a dia da maneira mais eficiente possível); Estruturante (Articulação técnica e política de projetos que ajudam a estruturar um Estado melhor e colaborar com a tramitação nos poderes executivo e legislativo, estadual e federal) e Futuro (Tornar o RS competitivo no cenário mundial, através da inovação e utilização de novas tecnologias. Tanto nos setores tradicionais como nas novas vocações do Estado). A pandemia também nos ensinou que a parceria entre poder público e iniciativa privada, somada a mobilização da sociedade gaúcha são fundamentais para uma Agenda de Futuro, planejando o Estado no longo prazo, e também na busca, atração e retenção de investimentos para novos negócios, além da criação de um conselho de lideranças que incentivem a transformação do Estado.
Quais as oportunidades e os desafios para o RS em 2021?
O grande desafio para este ano, sem dúvida, é o enfrentamento à pandemia, com o esforço de todos para que possamos seguir adotando atitudes seguras e responsáveis, evitando a continuidade da disseminação do vírus, aliadas ao crescimento veloz e contínuo da vacinação da maioria da nossa população. Há uma expectativa grande para o avanço em pautas de reformas, tanto no Estado com a Assembleia Legislativa quanto em Brasília com o Congresso Federal.
O RS vem avançando muito nos últimos seis anos com reformas como a previdenciária e a administrativa, mas ainda tem um longo caminho com concessões e privatizações. O custo da máquina pública é insustentável para a sociedade gaúcha.
Na pauta federal, defendo a implantação de medidas macroeconômicas que auxiliem no reequilíbrio das cadeias produtivas, e que possam controlar a inflação que surge como consequência das restrições impostas pela pandemia, assim como avançar em temas importantes como a reforma administrativa e tributária que serão fundamentais para nos mantermos confiantes em 2021.