O CEO do Transforma RS, Ronald Krummenauer, fala sobre a atuação do hub colaborativo, formado por lideranças empresariais empenhadas na busca de um Rio Grande do Sul mais competitivo e de soluções eficazes e efetivas para melhorar a qualidade de vida da sociedade gaúcha.
Quem são e o que fazem as lideranças do Transforma RS?
O Transforma RS é uma instituição nova que tem um pouco mais de um ano. É quase que uma instituição da pandemia. Quando começamos a construir a ideia do Transforma RS, nós não esperávamos que isto fosse acontecer. Mas logo no início da sua operação, em fevereiro e março do ano passado, entramos nesse período. Esse longo período de mais de um ano de gestão diferente das nossas vidas.
O Transforma RS vislumbrou um espaço nada ocupado no meio empresarial que é a relação mais política com os governos estaduais e municipais, especialmente as pautas estaduais.
Em uma conversa com algumas lideranças importantes e conhecidas na sociedade gaúcha, como Daniel Randon (presidente do Conselho Deliberativo do Conselho Superior), e outras lideranças novas como Bruno Zaffari, Marciano Testa (fundador e CEO do Agibank) e José Renato Hopf, tivemos a intenção de ajudar o desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Sul com um viés político, além do setorial. O Daniel Randon, por exemplo, não está trabalhando como a empresa Randon, mas sim como uma liderança empresarial voltada ao desenvolvimento do Estado. O José Galló também não está trabalhando com o viés varejista das lojas Renner, e sim como uma liderança preocupada com o desenvolvimento do Estado.
O desenho inicial do Transforma RS foi feito baseado numa experiência recente que eu tive como secretário do Estado da Educação em 2017 e 2018, onde ficou muito claro para mim que devemos construir algo mais focado no desenvolvimento conjunto e na parceria público e privada, utilizando principalmente a educação, que é muito mais do que somente o ensino das escolas, mas uma educação de preparação e formação de pessoas e profissionais para o século 21. Esse século é muito mais tecnológico e tem relacionamentos diferentes daqueles que a maioria de nós profissionais do século 20 aprendemos a conviver e estamos acostumados quando ingressamos no mercado de trabalho.
O Transforma trabalha com três eixos prioritários. Quais são eles?
O primeiro deles é um enfoque mais no dia a dia, sem que tenha um caráter de longo prazo e de projeto de futuro. Isso vale para uma empresa que está sendo gerida por uma instituição como o Transforma RS, mas também vale, principalmente, para governos, principalmente governos municipais e estaduais.
Quando a gente abre o portão da nossa casa, quando saímos da garagem do prédio, quando levamos o filho à escola, o que estamos lidando é com essas coisas do dia a dia. Por isso elas são tão importantes. Não queremos cair num buraco e queremos chegar com tranquilidade nos lugares e encontrar a cidade em boas condições. Ou seja, a qualidade de vida. Essa é a questão do dia a dia e do cotidiano. E algo que ficou muito claro para mim com a experiência no poder público, é de que governos não dão muita atenção para isso. As prefeituras deveriam ter uma equipe para cuidar do dia a dia que se relacionasse com tudo isso.
Se a gente ainda considerar os tempos atuais, com as redes sociais, boa parte dos programas de rádio e até mesmo de televisão hoje são pautados pelo WhatsApp e por demandas da população sobre questões do dia a dia. Às vezes, questões até de fácil resolução que nem possuem uma questão financeira.
Então, esse é um primeiro eixo de entendimento. A gente precisa entregar isso para a população, o poder público tem que ter esse entendimento e a iniciativa privada tem que cobrar isso e ser parceira desse processo
O segundo eixo é um eixo um pouco mais estruturante. O estado do Rio Grande do Sul vem passando por medidas importantes nos últimos anos, mas durante décadas, em praticamente todos os anos, com raríssimas exceções, nós tivemos uma despesa pública maior do que a receita.
Eu sei que alguns economistas entendem que o poder público não tem finitude e ele deve arcar com essas questões públicas, independente do valor gerar um déficit ou não. Mas, em um entendimento mais moderno, a gente vai ver que se não tiver um certo equilíbrio e ajuste fiscal, o poder público fica sem condições de investimento. Muito mais do que pagar as contas e as folhas de pagamento, é o investimento que a população vai perceber e sentir. Aí, vamos além do dia a dia e entramos na percepção de médio e longo prazo. São os investimentos em escolas, hospitais, segurança, etc. É isto que vai dar uma certa segurança, mas é mais do que isto. É também uma privatização de empresas que já não estão dando o resultado necessário para a população, sejam elas da área de comunicação, sejam elas da área de energia ou uma concessão de estrada.
Esses projetos estruturantes podem levar, em médio e longo prazo, para uma outra situação fiscal que vai gerar uma condição de investimento por parte do poder público e, por outro lado, melhores condições para a população. Assim, os indivíduos conseguem perceber um novo desenvolvimento do Estado.
A princípio não pagar pedágio, por exemplo, é uma despesa a menos que vai sair do meu bolso. Porém, quando temos a opção de uma estrada ruim sem pedágio ou uma estrada boa com pedágios, já começa a mudar um pouco a figura. É claro que a gente tem que ter o equilíbrio entre o valor que vai ser cobrado e aquilo que é o serviço previdente. O poder público tem que ter sempre esse controle e essa fiscalização de contratos. Para isso existem agências reguladoras, o Poder Executivo e o Ministério Público. Essa é uma organização pública da democracia em todos os países do mundo.
Então, é importante analisar essa questão de projetos estruturantes para o Rio Grande do Sul sair dessa pouca capacidade de investimento que existe há décadas para avançar a um cenário com mais qualidade de vida para a sociedade.
Por fim, o terceiro eixo, dentro dessa discussão da construção inicial do Transforma RS, é de que também precisamos olhar para o futuro. E aí entra o que eu ressaltei no início da nossa conversa: a questão da educação como base. Ou seja, o que vamos construir de legado para aquelas pessoas que estão vindo por aí?
Então, pensar no futuro da educação nessa amplitude maior, fugindo apenas da educação tradicional. Assim, temos que construir algumas coisas que são prioritárias no estado do Rio Grande do Sul e pensar naquilo que o Estado pode construir como novos desafios e pilares.
O que o Transforma RS aprendeu com essa pandemia?
No Transforma, nós nos adaptamos imediatamente. Fizemos algumas combinações com o governo do Estado na primeira quinzena de março de 2020 e, dez dias depois, tivemos que entrar em quarentena com o fechamento dos negócios. O Transforma ajudou muito no processo de encontrar um equilíbrio entre a saúde e a economia.
Em um primeiro momento da pandemia, as coisas ficaram mais confusas para as pessoas em geral. Tudo era muito recente, mesmo que na Europa o vírus já estivesse presente.
A nossa dúvida era constante. No começo, tínhamos a sensação de que, se saíssemos pra rua, o coronavírus já nos contaminava. Então, era um estado de choque total. Com o tempo, naturalmente, começamos a entender que precisamos ter uma priorização da saúde e viabilizar recursos para os estudos sobre o vírus no Brasil e no Rio Grande do Sul.
Com apoio do Transforma RS, inclusive, tivemos iniciativas de construção de hospitais e compra de respiradores.
À medida em que começamos a ter uma estrutura melhor em termos de condição sanitária para enfrentar a covid, o Transforma começou a articular junto com vários segmentos uma reabertura da economia na busca do equilíbrio. É claro que tivemos muita perda de empregos e empresas fechadas que não tinham capital de giro, mesmo com ajuda. Ressalto as atitudes do Estado e principalmente do Governo Federal de repasse de recursos e de auxílios. Essas são alternativas que o poder público tem que ter nesses momentos. É essencial que o poder público tenha condições para ajudar a população em crise.
Então, eu diria que passamos por dois momentos diferentes na pandemia. O primeiro foi um estado de choque e de perplexidade em que pensamos o que poderíamos fazer como uma instituição empresarial que recém está começando a se construir para ajudar com a questão da saúde.
O segundo momento foi a busca do equilíbrio na economia. Eu espero que a gente não tenha novamente uma retomada da situação difícil em que vivemos no ano passado. Agora, à medida que a vacinação vai avançando, teremos a diminuição dos casos graves. Podemos começar a pensar em uma maior normalidade tomando todos os cuidados necessários, utilizando álcool em gel e máscara.
Quais os projetos que são prioritários para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul e como que o Transforma vem construindo essas ideias?
Nós estamos trabalhando com alguns projetos junto ao governo do Estado. Alguns projetos já estão em desenvolvimento há algum tempo.
Tem três conselheiros, o Walter Lídio, José Renato e Daniel Santoro do grupo de conselheiros do Transforma que participam do conselho de desburocratização do Estado que tem avançado bastante em várias questões, principalmente com a nova versão da Lei de Inovação e Tecnologia que foi aprovada.
Nós, desde o ano passado, apoiamos junto aos deputados essa nova versão. Aí entra a questão da articulação política do Transforma. Não somos uma instituição setorial e não viemos para competir com os recursos setoriais que já estão há muito tempo fazendo o seu trabalho para a indústria e comércio. Mas viemos ajudar nessa questão da articulação política.
Então, projetos relevantes como a reforma administrativa da previdência dos militares, a previdência privada e o processo de privatização são projetos dentro daquele eixo que chamamos de eixo de projetos estruturantes na questão do dia a dia.
Essas pautas são uma questão de se adaptar. É preciso também lidar com o imprevisto e se adaptar àquelas coisas necessárias. O que nós ainda não começamos e ainda está na fase de discussão, mas não na prática, é a questão do eixo do futuro. Isto ainda não está efetivado. Há uma ideia e uma combinação de ter um conselho de Competitividade que funcionaria junto com o poder público, com as secretarias, com governo do Estado, instituições e com empresários da iniciativa privada.
Nós ainda não estamos praticando. Eu quero lembrar isso e deixar isso muito presente para todos. A gente está falando de uma instituição que nasceu há alguns dias antes da pandemia. Tivemos que nos adaptar e agora que a gente está tendo condições de falar e propor coisas que não estão relacionadas com a pandemia, como a retomada do comércio. Era difícil de falar de questões de longo prazo do pós pandemia enquanto as pessoas estão perdendo o emprego e estão com dificuldade de pagar suas contas e com medo de morrer. Estamos vivendo um momento muito delicado.
E o foco na educação? O que o Transforma pensa a respeito disso?
Eu considero que a gente vai ter um novo “AC” e “DC”. Um “antes do covid” e um “após o covid”. Em muitas questões, mas principalmente na educação. Infelizmente, a educação pública vai ficar ainda mais distante da educação privada.
A adaptação das escolas privadas foi muito rápida, na maioria dos casos. As escolas já estavam adaptadas a essa nova realidade. Claro que tem perda, mas isto tem uma continuidade de ensino. As escolas públicas, de modo geral, começaram a ter alguma questão um pouco mais presente lá por julho do ano passado, mais tardiamente.
Eu estive à frente da Secretaria de Estado da Educação, então eu entendo. O avião é mais demorado para fazer um novo direcionamento. Não estou colocando culpa em ninguém, pois esse é o funcionamento.
Mas aí, quando a gente chega, por exemplo, em 2021, com o retorno das aulas, a gente vê que as escolas municipais ainda têm que fazer diversas adaptações e temos um atraso da retomada.
Por isso, acho que vamos ter um “antes do covid” e um “após o covid” e acredito que, mais do que nunca, teremos que discutir um novo método de ensino do século XX para o século XXI. Esse processo vai ser completamente diferente para as escolas públicas e as escolas privadas.
O que podemos fazer é trabalhar para diminuir essa diferença. Como, por exemplo, escolas comunitárias onde o público e o privado trabalham em conjunto. Uma escola estadual ou municipal que possa ser administrada por uma rede privada. É uma das opções.
Agora, uma parte da questão da educação, é o ensino. A outra parte está em entendermos que a educação precisa ser um projeto prioritário para um estado ou país. Ao contrário de, por exemplo, segurança e saúde, o medidor de melhorias da educação são de médio e longo prazo. Não é algo que podemos observar no mesmo instante. Então, começamos a investir na área no ano 1 do Governo e, no ano 4, ainda teremos poucos avanços.
Por isso, essa questão é mais delicada. Mas, se olharmos para os países que conseguem avançar, como a Coréia, Vietnã, Nova Zelândia, etc., vemos que esses locais colocam a educação como prioridade no Governo. Nós não fazemos isso no Rio Grande do Sul e muito menos no Brasil.
O que eu proponho é um projeto grandioso de futuro tendo como base a educação e com parceria público-privada. A gente precisa trilhar um caminho de longo prazo, mas teremos, ali na frente, um resultado positivo para o Rio Grande do Sul.