Conselheiro do Transforma RS e CEO da Atitus Educação, Eduardo Capellari, fala sobre as expectativas em relação aos próximos anos do governo de Eduardo Leite na área da educação
Em seu discurso de campanha, Eduardo Leite ressaltou que a educação será a grande prioridade de seu próximo mandato. “O primeiro mandato foi para arrumação da casa. Agora vamos arrumar a escola”, disse o governador reeleito, em pronunciamento logo após o anúncio da vitória, no dia 30 de outubro. A expectativa do setor é grande para que importantes mudanças sejam feitas nos próximos anos. Para o conselheiro do Transforma RS e CEO da Atitus Educação, Eduardo Capellari, a formação das próximas gerações depende das reformas que devem iniciar no próximo governo. Ele, que está à frente do eixo Educação, no Transforma, defende entre outras sugestões, que a Secretaria de Educação tenha uma gestão profissional, utilizando dados e evidências para a tomada de decisões. Capellari também acredita que é fundamental reestruturas as escolas técnicas e investir na capacitação de professores. Confira a entrevista completa:
O que o Transforma RS espera da atuação do governador reeleito no campo da educação? Na sua opinião, quais devem ser as prioridades?
O Transforma espera que o governador eleito empreenda, ao longo desses quatro anos, um programa maciço na área de educação e considere a educação como principal prioridade desse novo governo. O governo anterior foi de reformas, que viabilizaram as condições econômicas e fiscais de um avanço nas demais áreas para esse próximo período. O Rio Grande do Sul vive o fim de uma janela demográfica e nós vamos ter o envelhecimento da população. Nós já decidimos, como Estado, que nós queremos ser líderes na área de inovação e não temos como manter liderança ou assumir posições ainda mais relevantes no cenário nacional e internacional sem ter uma educação de qualidade.
Na sociedade de conhecimento, na sociedade do mundo contemporâneo, em que a competitividade está vinculada à qualidade da educação, não ter uma educação de qualidade e não priorizar a educação é um erro estratégico. A expectativa que nós temos é que se coloque em primeiro plano esse tema. Que a gente consiga perceber que a formação das próximas gerações depende de reformas que ainda vão ser feitas neste governo que vai iniciar, e que isso não é só uma questão de mero plano de governo, mas atende a pelo menos dois grandes objetivos: manter a competitividade do Estado, portanto isso tem um impacto econômico, e, ao mesmo tempo, fazer da educação o principal fator de justiça social, de criação de oportunidades para aqueles que têm menos recursos, para as camadas mais pobres da sociedade, sendo um elemento que promove a ascensão social e promove justiça da melhor forma.
E por onde começar? Qual seria a prioridade número 1?
Na verdade, não existe apenas uma prioridade. O Estado precisa dotar a Secretaria de Educação de condições para que ela possa fazer uma gestão profissional do sistema, que é bastante relevante se considerarmos o número de escolas, alunos e professores. Então, toda a decisão precisa estar baseada em evidências e dados. Precisamos de uma gestão baseada em dados. E para isso, a Secretaria precisa estar estruturada, organizada do ponto de vista da governança e estrutura técnico-profissional para dar suporte para estas decisões estratégicas.
Em maio deste ano foi criado um movimento da sociedade civil chamado Pacto pela Educação, do qual o senhor participa como conselheiro. Qual a expectativa do Pacto com relação à nova gestão de Eduardo Leite?
Então, a primeira questão a se realizar é essa, que envolve a estruturação da Secretaria de Educação. Do ponto de vista de impacto para o aluno, nós precisamos avançar no tema da escola em turno integral. Ela precisa estar entre as prioridades do governo e é necessário que se tenha projeto para isso.
Outra prioridade envolve as escolas profissionais. O Rio Grande do Sul tem um conjunto de escolas profissionais do ensino médio com cursos que foram pensados para um outro período, outro tempo. E que, hoje, têm baixa procura. Portanto, são escolas ociosas. E temos as novas profissões, novas áreas de atuação que estão demandando profissionais que não são formados. Um exemplo é a área de tecnologia. Nenhuma escola técnica profissional do Estado forma pessoas em tecnologia da informação, área que hoje tem o maior nível de empregabilidade. Então, há um descompasso entre a oferta de educação profissional com aquilo que a sociedade está esperando. E uma terceira questão que eu colocaria entre as prioridades é um processo intenso de capacitação de professores e gestores de escolas para que a gente consiga engajá-los no processo de mudança que se precisa realizar.
Entre as principais propostas do governador eleito estão implementar um programa de bolsas de estudo nas universidades comunitárias gaúchas para alunos de baixa renda e aumentar a oferta de escolas em tempo integral para os anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Qual sua avaliação a respeito desses projetos?
Disponibilizar bolsas para formação de professores é uma proposta estratégica. A atividade docente, a atividade profissional de professor, foi muito desprestigiada, com tantos problemas nos últimos anos em todo o país, de modo geral, mas em especial no RS, com a defasagem salarial e demais questões envolvidas. Isso faz com que os melhores alunos que almejam o ensino superior acabam não colocando a atividade docente como uma prioridade em sua trajetória profissional. Ou o Estado monta uma política de atração e manutenção de bons alunos do Ensino Médio para que realizem a formação superior nas carreiras de Magistério, ou teremos um apagão de professores. Isso já está se materializando em diversos indicadores, em áreas como Química, Física e Biologia. Ou seja, naquelas áreas mais técnicas de docência são as que mais faltam educadores. Então, precisa ter uma política estruturada com oferta regular de bolsas para atrair esse aluno para que tenhamos condições de manter um ritmo de formação de professores nos próximos anos.