Economista projeta ciclo de recuperação para o RS e aposta em investimentos no setor de serviços
O ano de 2022 se encerra marcado pelo reaquecimento da produção e do consumo no Rio Grande do Sul. Conforme mostra o Anuário de Investimentos 2022, produzido pelo Jornal do Comércio e divulgado recentemente, o Estado recebeu aportes de R$ 62,6 bilhões – 23% a mais do que os R$ 50,2 bilhões do ano passado. Este foi o maior volume de aportes realizados ou anunciados no Rio Grande do Sul nos últimos cinco anos, conforme o Anuário.
A área de infraestrutura, com R$ 27,3 bilhões, assim como nos anos anteriores, lidera em 2022, mas com um perfil um pouco diferente. Em 2021, a predominância representava quase 60% dos recursos na economia gaúcha. Neste ano, a participação deste setor é de 43,6% do total de aportes. Quem ganhou espaço foi a indústria, com R$ 14,5 bilhões em investimentos em 2022, quase R$ 6 bilhões acima do registrado pelo Anuário em 2021.
Para o economista-chefe da Fiergs, André Nunes, 2023 deve seguir nesse ritmo positivo e há expectativa de que o Rio Grande do Sul cresça mais do que a média nacional. Embora as previsões sejam otimistas, Nunes acredita que não deve haver lançamentos de novos projetos, pelo menos no primeiro semestre, devido às incertezas com relação ao futuro da economia brasileira pós-eleições. Nesta entrevista, concedida ao blog do Transforma RS, o economista fala mais sobre suas projeções, confira:
Transforma RS – Como você projeta 2023 na área de investimentos no RS? Deve ser um ano positivo como 2022?
André Nunes – As expectativas apontam que 2023 será um ano em que o RS crescerá mais do que a média do Brasil. A estiagem no início do ano, que levou à quebra da safra de grãos, afetou o desempenho da economia gaúcha, a qual vai registrar uma retração de 2,5% em 2022. Enquanto isso, para o PIB nacional se espera um crescimento mais forte, 3,1%.
Para 2023, por outro lado, espera-se que a economia brasileira apresente uma desaceleração, enquanto o ciclo será de recuperação para o Rio Grande do Sul. Desse modo, projetamos alguma sustentação dos investimentos no Estado, enquanto no cenário nacional projetamos queda.
A economia no ano que vem será impactada pelo ciclo de aperto monetário, que não produziu todos os seus efeitos em 2022, muito por conta do aumento dos gastos públicos e cortes de impostos. Além disso, o quadro econômico-financeiro internacional será menos favorável, uma vez que temos o maior ciclo de aperto monetário nas economias desenvolvidas em décadas e os riscos de uma recessão estão muito elevados.
Transforma RS – Qual área você acha que terá mais destaque? Neste ano, tivemos a área de infraestrutura, por exemplo, como o segmento que recebeu o mais investimento.
André Nunes – A Construção Civil tem sido o destaque nos últimos anos, tanto no ramo de edificações, quanto nas obras de infraestrutura. Além disso, as máquinas e equipamentos para a agropecuária devem continuar sendo destaque, principalmente com a expectativa de uma melhor safra de grãos. Contudo, os últimos dois anos, no geral, foram positivos para o setor industrial, o qual conseguiu se recuperar mais rápido após os primeiros impactos da pandemia. Por conta disso, muitas indústrias, em diversos segmentos, procuraram investir para adequar a produção, modernizar ou expandir. Dessa forma, acreditamos que muitos desses projetos estão em andamento.
No entanto, quando analisamos as perspectivas para 2023, não imaginamos um crescimento nos lançamentos de novos projetos. A incerteza quanto ao futuro da economia brasileira pós-eleições tem afetado a confiança do empresário. Os dados da Sondagem industrial da FIERGS, por exemplo, mostravam que em setembro 70% dos industriais estavam dispostos a investir nos próximos 6 meses. Em novembro, esse indicador caiu para 50,5%. Desse modo, acreditamos que o desempenho do primeiro semestre de 2023, no que tange o início de novo empreendimento, esteja perdido.
Transforma RS – E como você acredita que será o desempenho de outros setores, como indústria, serviços…?
André Nunes – A conjuntura brasileira e internacional mais desafiadora esperada para o ano que vem pode afetar a todos. O aumento do custo de capital gera um desincentivo aos investimentos na medida em que muitos projetos ficam inviáveis financeiramente e, mesmo os viáveis, tendem a ter mais dificuldades de levantar recursos.
O crescimento mais acentuado em 2022 foi proporcionado pela normalização do setor de serviços. Esse foi o segmento destaque no ano e aquele teve de lidar com os problemas de demanda reprimida. Dessa forma, a adequação dos serviços ao uma nova realidade, assim como aconteceu com a indústria, o transforma num candidato para iniciar um ciclo de investimentos em 2023. Entretanto, essas atividades tendem a ser pouco intensivas em capital fixo, de forma que o aumento da oferta deve pressionar mais a demanda por trabalho do que um impulso dos investimentos.