A importância de valorizar os empreendedores que apostam no Brasil, ESG e perspectivas pós-pandemia – Entrevista com Daniel Santoro

A importância de valorizar os empreendedores que apostam no Brasil, ESG e perspectivas pós-pandemia – Entrevista com Daniel Santoro

O empresário Daniel Santoro, Presidente do Conselho de Administração da ONG Parceiros Voluntários e Vice-presidente do Transforma RS, responde sobre a importância de valorizar os empreendedores que apostam no Brasil, a implementação do ESG como elemento presente nas estratégias das empresas e as perspectivas para o desenvolvimento econômico do RS pós-pandemia.

Confira a entrevista:

1. A saída de grandes indústrias do Brasil é um sinal de alerta e abre precedentes para outras empresas reavaliarem suas posições no país?

Não é de hoje que diversos agentes da sociedade, em especial o empresarial, vêm apontando e alertando para a dificuldade de empreender e produzir no Brasil.

Nas últimas décadas, o país vem aprimorando a sua competitividade e relevância internacional na produção de alimentos. O mesmo ocorre em setores como mineração. São dois segmentos que extraem valor da vocação natural da grandiosidade e generosidade da natureza em nosso território. Lógico que, para extrair valor dessas indústrias há muito trabalho e tecnologia aplicada – a questão é porque não conseguimos ampliar nossa competitividade para outros setores como, por exemplo, indústria e serviços? O que nos impede de avançarmos de forma mais vigorosa nesse sentido?

Existem inúmeros estudos que apontam a falta de competitividade dos produtos e serviços brasileiros frente à concorrência internacional e, em épocas de crises agudas como a gerada pela pandemia, esta competição se intensifica. Quando o mercado se retrai, quem possui menos recursos é o primeiro sentir os impactos. Isso ocorre tanto na microeconomia quanto na macroeconomia, pois, todo indivíduo que possuí a responsabilidade de gerir um negócio precisa estar atento para buscar as melhores alternativas à sua disposição. E é exatamente nesta análise comparativa que os tomadores de decisão dos grandes conglomerados empresariais globais começam a questionar a relação de potenciais ganhos x riscos estruturais brasileiros. Precisamos ser assertivos para corrigir nossas fragilidades comparativas.

2. Por que uma empresa tende a ser mais valorizada na hora que ela fecha suas portas?

Eu tendo a acreditar que seja por falta de exercitar a consciência do que realmente importa em nossas vidas. Penso que ao darmos excessivo valor a uma empresa quando ela parte somos injustos com aquelas que seguem persistindo em “girar seu negócio”, gerando empregos, impostos, comprando insumos locais, melhorando a autoestima da localidade e assim por diante.

Devemos estar atentos e conscientes de que os empreendedores é que geram valor econômico para a sociedade e que defender um ambiente saudável para o empreendedorismo é também defender a sustentabilidade econômica das pessoas e comunidades, pois trata-se de um sistema único e complexo – assim como devemos proteger o meio ambiente e tomar medidas para a diminuição das desigualdades, temos que agir para que haja sustentabilidade econômica.  

3. Qual a importância do ESG, adotado no mercado global?

O ESG (Enviromental, Social and Governance) emerge como algo novo, mas, esse termo apareceu na publicação “Who Cares Wins”, de 2004, do Pacto Global da ONU junto com o Banco Mundial. O tema permite um olhar parametrizável para a implementação do capitalismo de stakeholders, isto é, a integração do sistema produtivo à causa de sustentabilidade no e do planeta.

Os jovens assumiram a sustentabilidade como um valor intrínseco de seu comportamento, provocando uma mudança geracional de consumo. Parece não haver muitas alternativas para as empresas assumirem o ESG como elemento presente de suas estratégias.

 O ESG também endereça a questão da desigualdade social, quando aponta as organizações que consideram as pessoas do seu sistema dentro da equação de seus negócios.

Se vivemos numa sociedade globalizada, precisamos pensar na aldeia global de mais de 8 bilhões de pessoas e que a desigualdade crescente é tão insustentável quanto a igualdade utópica.

Por último, o aspecto da Governança insere em si princípios de boas práticas, como por exemplo, transparência, accountability e responsabilidade social, que equalizam a propriedade e o controle das organizações com o objetivo de preservar e gerar valor para todo o sistema.

4. Como as comunidades podem reconhecer o valor do empreendedorismo e qual a importância deste acolhimento?

Precisamos revisar o conceito de empreendedorismo e modificar a nossa própria percepção de empresário, de empreendedor no sentido de ser alguém que investe seus ativos numa operação – independentemente da área de atuação e do tamanho do investimento. É preciso ter orgulho dos tomadores de risco empresarial, pois, é deles que provém toda a geração de riqueza que, posteriormente, é distribuída para a sociedade.

Para tangibilizar, se fala nos empregos diretos perdidos com a partida de uma grande empresa, mas, quantas pessoas que empreenderam em torno daquela grande operação e que serão afetadas? A consciência da interligação dos fatores nos permitirá perceber a interdependência que existe e com isto negociarmos incansavelmente as soluções que permitam a prosperidade do sistema e não de um único grupo ou agente.

5. O que é preciso para que o RS se torne mais competitivo nesta retomada econômica pós-pandemia?

Precisamos romper as barreiras de ideologias polarizadas e avançar para políticas públicas que objetivem uma sociedade moderna, saudável e próspera.

O custo do Estado se tornou insustentável e a dívida acumulada sem um tratamento à altura de sua gravidade, condena as novas gerações a viver numa condição de empobrecimento crônico.

Não haverá solução eficaz sem que todos nós, individual e coletivamente, verifiquemos que será necessário ceder em algum ponto.

Eu ainda sou otimista que temos, atualmente, líderes, públicos e privados, competentes e bem-intencionados – precisamos, com urgência, ampliar e reconstruir a confiança entre nós. A confiança não se refere a concordar com a integralidade do que nos é apresentado, mas, criar um ambiente de escuta do outro, de inclusão da dor do outro na solução conjunta. É chegada a hora do Rio Grande do Sul equalizar seu passado e focar suas energias para o futuro.