Capital Humano: Brasil perde 40% do talento de suas crianças, diz Banco Mundial

Capital Humano

Estudo inédito aponta que, antes da pandemia, seriam necessários 60 anos para país atingir nível de capital humano das nações desenvolvidas. A situação piorou após a crise sanitária.

Uma criança brasileira nascida em 2021 perderá, em média, 46% do seu potencial total devido às condições de saúde e educação, agravadas pela pandemia de Covid-19. Já para as nascidas em 2019, esse percentual era de 40%. Os dados fazem parte de um estudo do Banco Mundial sobre o Brasil, divulgado nessa semana.

O “Relatório de Capital Humano Brasileiro – Investindo nas Pessoas” aponta que o País perdeu o equivalente a uma década de progresso no Índice de Capital Humano (ICH) devido à crise sanitária, econômica e educacional dos últimos dois anos. O Produto Interno Bruto (PIB) poderia ser 2,5 vezes maior (158%), se as crianças desenvolvessem suas habilidades ao máximo e o Brasil chegasse ao pleno emprego.

“Se o ICH mantivesse a trajetória de crescimento observada entre 2007 e 2019, o Brasil levaria aproximadamente 60 anos para atingir os patamares de capital humano alcançados pelos países desenvolvidos. Com as perdas trazidas pela pandemia, há ainda menos tempo a perder”, diz o coautor do relatório e coordenador do programa de Desenvolvimento Humano do Banco Mundial no Brasil, Pablo Acosta.

Considerando-se a taxa de crescimento antes da pandemia, o ICH levará de 10 a 13 anos para retornar ao patamar de 2019 no Brasil. Ou seja, o Brasil chegaria novamente ao ICH de 2019 somente em 2035, calcula o Banco Mundial.

Entre as recomendações dadas pela organização, para reverter este quadro, estão medidas para garantir o retorno e permanência de crianças e adolescentes na escola, além do fortalecimento do sistema público de saúde do país e do programa brasileiro de transferência condicionada de renda.

Educação básica como prioridade

Na educação, as escolas ficaram fechadas por 78 semanas, um dos fechamentos mais longos do mundo. Conforme o estudo do Banco Mundial, consequentemente, a parcela de crianças que não sabem ler e escrever saltou 15 pontos percentuais entre 2019 e 2021, observa a instituição financeira internacional.

O conselheiro do Transforma RS, Jorge Gerdau Johannpeter, destacou em reunião-almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul que melhorar a educação básica no País é um dos desafios mais importantes a serem superados.

Chamou a situação de irresponsabilidade coletiva, e disse que é cada vez maior a relação entre educação, desigualdade social e crescimento econômico. “O maior desafio que temos é no campo da educação. No mundo de hoje já não basta a educação convencional, ele exige patamares superiores. Se eu quero construir o desenvolvimento, eu só consigo com educação e capacitação”, observou.

Gerdau defendeu a utilização de práticas de gestão e acompanhamento de resultados para fazer evoluir a qualidade do ensino. “É preciso exigir mais para ter resultados melhores”, argumentou.

Desequilíbrio regional

O Banco Mundial destaca que a média nacional é apenas uma parte da história e que há muitas desigualdades dentro do país. Por regiões, por exemplo, em 2019, o ICH do Norte e do Nordeste era de 56,2% e 57,3%, enquanto para Sul, Centro-Oeste e Sudeste variava de 61,6% a 62,2%.

Recomendações do estudo para a recuperação do capital humano:

  • A recuperação e aceleração sustentáveis exigem sistemas públicos resilientes. Os governos devem estar preparados para superar desafios inesperados ou enfrentar as próximas crises climáticas e de saúde pública.
  • Visto que os impactos da Covid-19 na formação de capital humano no Brasil se materializaram, em grande parte, na educação, a recuperação e aceleração do aprendizado devem ser prioridades nos próximos anos. Em primeiro lugar – e acima de tudo – todos os alunos devem voltar à escola.
  • Uma vez de volta à escola, os alunos precisam, efetivamente, reaprender. A recuperação e aceleração do aprendizado devem ser prioridade.
  • É essencial fortalecer a aprendizagem híbrida, ampliar a conectividade à internet, fornecer dispositivos computacionais para alunos vulneráveis e aprimorar as competências digitais.
  • O Sistema Único de Saúde (SUS) deve proteger crianças e adolescentes das consequências sanitárias e socioemocionais da pandemia. 

O que é capital humano

O capital humano é o conjunto de habilidades que os indivíduos acumulam ao longo da vida, explica Ildo Lautharte, economista do Banco Mundial e um dos autores do estudo.

Essas habilidades acumuladas determinam, por exemplo, o nível de renda e as oportunidades de trabalho que uma pessoa vai ter em sua vida. E impactam a produtividade, o tamanho do PIB e a capacidade de gerar riqueza de um país.

Para comparar esse potencial acumulado nos diferentes países e nas diversas regiões, Estados e municípios em cada país, o Banco Mundial desenvolveu o ICH (Índice de Capital Humano), um indicador que combina dados de educação e saúde, para estimar a produtividade da próxima geração de trabalhadores, se as condições atuais não mudarem.

Os dados que compõem o ICH são: taxas de mortalidade e déficit de crescimento infantil; anos esperados de escolaridade e resultados de aprendizagem; e taxa de sobrevivência dos adultos.

Fontes:

Nações Unidas do Brasil

BBC